
Felício Aparecido da Cunha, 46 anos, natural de Caconde, São Paulo, está há cerca de um mês no comando técnico do XV de Jaú. Terá como missão tentar levar o Galo à Série A-2 do Campeonato Paulista. Para isso, desde sua chegada, prega a realização de um trabalho de acordo com as condições do clube, sem sonhos e promessas impossíveis, com muita dedicação e humildade.
O treinador, mesmo sabendo das condições modestas do XV, aceitou o convite do atual presidente do Galo, José Antonio Construtor de Oliveira, para dirigir a equipe em 2010.
Felício fala que a competição é disputada em dois campeonatos diferentes. A primeira meta é chegar entre os oito primeiros colocados, que ele classifica como uma competição. A outra meta é ficar entre os quatro que sobem à Série A-2, o que é um torneio completamente diferente.
“Sabemos que o importante é chegar entre os oito primeiros colocados, sem necessariamente estar na frente, na ordem de chegada. Até mesmo porque a segunda fase passa a ser uma nova disputa. E, quem quer chegar, não tem de ficar escolhendo adversário. Estamos trabalhando com muito amor, união e determinação. E com a união de todos dentro e fora de campo temos tudo para colher bons frutos no futuro. Só com o trabalho de todos, um trabalho em equipe, a gente consegue nosso objetivo”, diz Felício Cunha.
O técnico já trabalhou no estádio Zezinho Magalhães, em 2005, quando faltou pouco para conquistar o acesso para a Série A-2 do Campeonato Paulista. Na época foi substituí-do pela diretoria, comandada pelo ex-presidente Irineu Stripari e pelo ex-diretor de futebol João Brandão do Amaral, atual vice-prefeito de Jaú pelo PTB.
Histórico
Em 2005, Felício foi substituído pelo treinador Edson Só, que só comandou o Galo nas três últimas partidas do segundo turno da A-3. Na última rodada, jogando apenas pelo empate em Jaú para garantir o acesso à A-2, contra o Rio Claro EC, o XV perdeu de virada no último segundo do jogo e permaneceu na mesma divisão. Subiu em 2006 com o ex-treinador Doriva Bueno.
Em 2008, a equipe começou a jogar sob o comando de Doriva Bueno, que foi substituí-do por Marco Antonio Machado e, posteriormente, por Márcio Griggio. Mas quando Griggio assumiu, a equipe já estava praticamente rebaixada para a Série A-3, que disputou no ano passado.
Carreira
Como jogador, Felício Cunha iniciou a carreira no XV de Jaú, com 18 anos, na equipe júnior, o Galinho. Atuou pelo XV de 1982 a 1987. Voltou em 1993 e defendeu o Galo em mais uma temporada.
Depois, foi jogar em outros clubes. Em 1996 foi trabalhar de treinador no Japão, onde permaneceu até 2003. Ainda naquele ano foi trabalhar de assistente-técnico no Sertãozinho, que tinha como treinador Edson Só. Foram dois anos como auxiliar de Só. Em 2004, veio o acesso do Sertãozinho para a A-2.
Felício lembra que veio para o XV com o irmão, Sergio Cunha, em 1982. Enquanto jogou pelo Galo, foi treinado por Antonio Pedro, Chiva, Da Silva, José Galli Neto e José Duarte, entre outros, que passaram pelo comando técnico da equipe jauense.
Comércio do Jahu - Qual seu time do coração?
Felício Cunha - Bom, tenho muita gratidão ao XV de Jaú, devo muito a esse clube que me acolheu e me revelou para o mundo do futebol. Só tenho a agradecer. Agora, meu time do coração, é meu trabalho. Acima de tudo tenho de ser profissional.
Comércio - Com quantos atletas você pretende trabalhar?
Felício - Uma base certa seria de 30 jogadores, mas devo trabalhar com cerca de 28 atletas no elenco, contando com os três goleiros. Isso é o necessário.
Comércio - O elenco do XV hoje é jovem, com alguns mais experientes. Qual a faixa etária do time que você está montando?
Felício - É um grupo mesclado, contando com a juventude e a experiência. Você tem de ter também atletas expe-rientes no elenco, inclusive, para ser o suporte para a garotada. Acho que vai dar uma média de 22 a 23 anos.
Comércio - Como vai ser seu time tecnicamente?
Felício - Vai ser competitivo e em busca de um ideal.
Comércio - Gostou do regulamento da competição (da Série A-3)?
Felício - Sim. É o mesmo de 2009. Normal. E quem chegar precisa jogar e não tem de ficar escolhendo esse ou aquele. Agora, são dois campeonatos, ou seja, duas etapas. Vamos por etapa. Primeiro chegar entre os oito. Depois é um outro campeonato. O mais importante é chegar.
Comércio - Como será a estreia em casa logo na primeira rodada?
Felício - Temos de impor nosso ritmo de jogo. Em casa temos a obrigação de ganhar e estamos contando com o apoio dos torcedores jauenses, aqueles que realmente gostam do XV. Pois o XV é de Jaú, de toda a cidade. O começo é meio ruim, uma vez que nossa equipe vai jogar dois jogos seguidos fora de casa, na segunda e terceira rodadas. Então, seria importante ganhar em casa na estreia.
Comércio - Está contando com o apoio da torcida jauense?
Felício - Com certeza. Quero ver a torcida acreditando, como foi em 2005. Faltou pouco. Hoje a situação do XV é ainda mais modesta. Então, é preciso ter os pés no chão e viver a realidade atual do clube. Mas com trabalho, humildade, determinação e aquela corrente para frente. Contando com uma só união, dentro e fora de campo, temos tudo para buscar algo mais na competição.
Comércio - E os jogadores do próprio XV, serão aproveitados?
Felício - Estamos trabalhando para que esse seja nosso objetivo. Todos estão treinando e tendo sua oportunidade. Agora, tem de fazer por corresponder em campo nos treinos, jogos e coletivos. Quem tiver condição, vai jogar. Quanto a isso, podem ficar tranquilos. Os jogadores que estão no elenco terão chance, todos, sem distinção. Agora, só vai jogar quem estiver melhor no momento. O fato de eles estarem no grupo já é um fator que permitirá serem aproveitados. Depende do trabalho de cada um. Quem ganhar a oportunidade de jogar e mostrar serviço, vai continuar. É com essa filosofia que vamos trabalhar.
Comércio - Quando pretende ter um time definido para a estreia?
Felício - Vamos começar um trabalho forte após o dia 4 de janeiro, com coletivos e jogos-treino. Espero na semana da estreia estar com o time titular definido. A gente tem uma base de cada jogador e com os trabalhos com bola teremos um time ideal para a estreia.
Comércio - Pretende fazer quantos jogos-treino?
Felício - Acho que uns dois ou três e, se possível, com clubes de divisões acima da nossa.
Comércio - Já tem algum jogo definido?
Felício - Certo ainda não. Mas já estamos pensando em alguns, e faremos contato após a reapresentação geral do dia 4.
Comércio - E o fato de alguns clubes que vão disputar a Série A-3 já terem realizado jogos-treino?
Felício - Bom, houve times que começaram a preparação bem antes da gente. Então, tiveram mais tempo de preparação nessa primeira etapa da pré-temporada. Mas posso adiantar que ganhamos muito mesmo no trabalho físico. Treinamos bastante, foi um trabalho forte na parte física e isso é um dos fatores principais para você começar um trabalho forte com bola. Então, nesse aspecto, ganhamos muito. Agora, nós vamos fazer também alguns jogos-treino antes da nossa estreia. É questão de só mais um tempinho para estarmos próximos do nível dos adversários em preparação.
Comércio - Qual seu objetivo principal?
Felício - Como eu já falei, é primeiramente chegar entre os oito primeiros na fase inicial.
Comércio - Quais os favoritos ao acesso?
Felício - Ainda é cedo. Não dá para apontar favorito nesse momento. Vai ser um campeonato difícil. Acho que será um dos mais difíceis de todos os tempos, em se tratando de Série A-3. Tem clubes de tradição e outros que subiram e estão investindo alto mesmo. Caso do Red Bul-SP, que tem condição até de contratar jogadores que pedem salários de R$ 6 mil a R$ 7 mil.
Comércio - Como será ter de trabalhar dentro das condições financeiras atuais do XV, bastante limitadas?
Felício - Tem de se trabalhar profissionalmente. De forma profissional. Trabalhando com vontade, humildade, determinação e esperando os resultados em campo.
Comércio - Tem preferência por horário para os jogos em casa?
Felício - Prefiro de manhã, às 10h. É um horário bom.
Comércio - Fazendo a lição de casa, ou seja, vencendo nos jogos em Jaú, é o suficiente para o XV se classificar?
Felício - É um passo importante, sim. Mas acho que não basta. Temos de buscar também pontos fora de casa. O importante é somar pontos dentro e fora de Jaú.
Comércio - Você lembra de algum momento marcante, de emoção, quando era jogador de futebol?
Felício - Tenho sim, muitas lembranças. Mas eu recordo com muita emoção daquela vitória no Parque Antártica, pelo Campeonato Paulista de 1985. Era uma reta de chegada e uma partida importante para o Palmeiras, em termos de classificação, e felizmente tive a felicidade de marcar o terceiro gol, aquele que nos deu a vitória por 3 a 2. Foi muita emoção mesmo.
Comércio - Um jogo que marcou sua carreira como treinador.
Felício - Aquele em Jaú, em 2005, na segunda fase, quando ganhamos do Rio Claro por 4 a 3. Foi um jogo emocionante.
Comércio - E decepção na carreira de treinador, você teve alguma?
Felício - Sim. Minha maior decepção foi em 2005, pelo fato de não ter ficado aqui, quando estávamos a três partidas do acesso. No returno, quando faltavam apenas três partidas e a gente estava unido e concentrado em buscar uma vaga do acesso, e fui trocado naqueles três jogos finais. Eu lamento não ter ficado para ajudar o XV a conseguir o acesso. Com certeza nosso grupo estava pronto para conseguir o acesso, mas meu trabalho foi interrompido. Então, não pude ficar para ajudar a equipe. Mas tudo bem. Agora é uma outra situação, e temos apenas um ideal: nosso XV de Jaú.
Comércio - Qual foi o melhor treinador durante sua carreira como jogador?
Felício - Todos eles foram bons. Agora, cada um tem um estilo de trabalhar, uma filosofia de trabalho. Mas aprendi muito com todos.
Comércio - Qual a mensagem que você deixa à torcida do XV para 2010?
Felício - Acreditar e ter muito otimismo. Sempre acreditar. Quando a gente acredita na possibilidade de conquistar algo, temos de ir até o fim. Os jauenses sabem que o XV é de Jaú e de todos nós. Todos sabem que o XV é um clube de tradição e isso é muito importante. A torcida jauense com certeza será o 12º jogador em campo. Vamos contar com o apoio de cada torcedor jauense. No mais, que todos tenham um feliz 2010, com muita paz, saúde e realizações.